CASA FIRJAN DA INDÚSTRIA CRIATIVA

Rio de Janeiro, RJ

2012

 

Concurso SESI RJ

 

Área Construída

6000,00 m²

 

Arquitetura

Zeca Franco

Lina Correa

Leonardo Lopes

O edifício proposto procura adaptar-se às reduzidas dimensões do terreno sem, no entanto, perder de vista o programa proposto e as restrições derivadas dos controversos dispositivos reguladores de uso do solo na quadra em que se insere. Sua volumetria foi fortemente condicionada pela compreensão da importância de que espaços livres serão fundamentais nas relações futuras com o palacete e as casas geminadas, menos próximas do que este, muito menores, mas importantes para os novos caminhos que se espera conseguir.

 

O quadrilátero oferecido à ocupação abre-se, a leste, para uma Guilhermina Guinle estreita e represada pelo muro que se alonga até a São Clemente.  Sua derrubada vai permitir ao novo edifício uma relação mais direta com a calçada e os passantes.  E como a remoção parcial deixaria o trabalho pela metade, sugerimos que todo o muro, até a esquina, seja removido. Para que o caminhar seja completo, agradável e visualmente mais seguro.

 

A porção mais visível do conjunto proposto vai alinhar-se a Rua Guilhermina Guinle, elevando-se do chão, em duas lâminas não superiores à cornija do palacete. Alcançaremos neste volume altura de onze metros. Sua elevação abrirá caminho para as casas geminadas e para a galeria de arte que vai ocupá-la. Um outro volume, com 18 metros de altura, perpendicular a testada do lote, vai afastar-se na direção sul, permitindo ganho de largo espaço protegido e preservando a perspectiva do vizinho ao norte.

 

As duas lâminas baixas vão abrigar parte do segmento corporativo e educacional. O volume mais alto vai receber o restante destes usos, além de acomodar a biblioteca, o setor administrativo e um restaurante.  O terraço aberto sobre a lâmina mais baixa será extensão do espaço de comer.

 

No lado oeste do terreno, protegido pelo volume perpendicular, um bar vai contribuir para que o espaço remanescente seja mais disputado todo o tempo.

 

O auditório, o teatro e sua infraestrutura vão ser enterrados, eis que suas características funcionais e operacionais permitem e tiram vantagem desta condição. Lá em cima parte do espaço conseguido vai inclinar-se na forma de anfiteatro ao ar livre permitindo acesso informal ao foyer e a outras tantas atividades que poderão interagir com os usos citados. A área enterrada representa um terço de um total de 6000,00 m2 de área construída, contribuindo para a redução dos volumes acima do chão e, por consequência, para o aumento da porosidade espacial, facilitando a convivência entre o novo e o existente.

 

O puxadinho das casas geminadas vai ser demolido porque atrapalha a compreensão de sua arquitetura original e a conexão com o edifício novo num ponto em que o estreitamento do terreno compromete o desenho dos novos caminhos. Seu piso vai ser parcialmente escavado aumentando o espaço de exposições em cota negativa de 3 metros e estendendo-se para fora de sua projeção atual.

A entrada de caminhões e outros veículos de serviço vai ser feita no lado sul do lote. Neste ponto um pátio interno vai permitir manobras de carga e descarga e parada ocasional.

 

Estacionamento para o público externo ou do staff não foram previstos nesta proposta. Parâmetros legais e funcionais determinam que 150 vagas para carros podem ser necessárias no atendimento ao programa exigido: cerca de 3750,00 M2, na melhor das hipóteses, ou o equivalente a dois subsolos. Pouco provável que a Rua Guilhermina Guinle saísse ilesa deste acréscimo no movimento de automóveis em sua única pista livre.

 

O bairro de Botafogo conta com boa infraestrutura de transportes públicos. As linhas de ônibus que trafegam pela São Clemente e Voluntários da Pátria têm extensão local e metropolitana por suas conexões modais. A estação do metrô mais próxima fica a menos de 10 minutos de caminhada. A vizinhança desta quadra conta com cerca de 25 estacionamentos pagos. Parece possível abrir mão da vaga para o automóvel neste contexto. E desvincular o novo edifício destas estruturas em processo de superação poderá representar um bom exemplo para a cidade.

 

Desenho e construção

 

A arquitetura proposta não será possuída por fervores tecnológicos. Deverá, no entanto, manter com os avanços do mundo atual uma relação de igualdade. Refletindo o que a boa técnica pode alcançar, sem desprezar o método na busca do êxito. Não reduzirá suas características de sustentabilidade ao trato com a matéria prima e o consumo energético. Seu valor social existirá se houver redução ou eliminação de trabalhos fatigantes. E se contribuir para o aumento do nível cultural e tecnológico do grupo envolvido na sua fabricação e montagem. O conceito de sustentabilidade deve, portanto, incluir o homem.

 

De acordo com módulos coordenados de 2,50 m, foram escolhidos processos construtivos descentralizados para redução da importância das operações in situ, encurtamento de prazos, redução de desperdícios e incômodos para a vizinhança. É a razão construtiva como instrumento na concepção do projeto.

 

Sistemas secos serão privilegiados. Vigas em perfis laminados e pilares em tubos de seção redonda terão ligações aparafusadas dispensando o uso de solda no canteiro. A proteção do aço será feita por zincagem porque as exigências de manutenção são menores do que nos sistemas pintados.

 

As vedações internas e externas serão painéis sob coordenação modular a 1,25 M e vão configurar sistema seco importante nos futuros remanejamentos em planta.

 

 As lajes de piso em concreto leve pré-fabricado não deverão ter vãos superiores a 2,50 M, dispensando o uso de escoramento na concretagem de capeamento.

 

A fachada norte do bloco alto será protegida por bastões de cerâmica dispostos na horizontal em toda a sua extensão. Os painéis constituídos por esses componentes industrializados serão afastados do plano da fachada para permitir correntes de convecção que vão contribuir para a redução de temperatura nos ambientes protegidos. A fachada oeste da lâmina mais baixa é avarandada nos dois níveis. Sua fachada leste, para a Rua Guilhermina Guinle, conta com painel duplo de aço perfurado e galvanizado, afastado do plano de fechamento dos ambientes internos, para privacidade e conforto termo acústico.